quinta-feira, 9 de junho de 2011

Treinamento Funcional - Articulação por Articulação


por Michael Boyle

Meu grande amigo, fisioterapeuta Gray Cook, tem o dom de simplificar tópicos complexos.

Sinceramente, eu invejo sua habilidade de, sucintamente pegar uma idéia complicada e fazê-la parecer simples como nunca. Em uma recente conversa sobre os efeitos do treinamento no corpo, Cook produziu uma das mais lúcidas idéias que eu ja ouvi em minha carreira.

Gray e eu estávamos discutindo a respeito dos achados da “Functional Moviment Screen” (as necessidades específicas das articulações e como suas funções se relacionam ao treinamento físico). Uma das grandes virtudes da FMS é que a avaliação nos permite distinguir problemas relacionados com estabilidade, dos problemas relacionados com mobilidade.

Os idéias de Cook eram simples de serem interpretadas e me levaram a concluir que o futuro do treinamento físico deve ser baseado num conhecimento funcional das articulaçõs ao invés de um embasamento voltado para movimento.
 


A análise corporal que Gray realizou foi muito simples e direta ao ponto.

Na sua opinião, o corpo é um montante de articulações. Cada articulação ou série de articulações possui uma função específica dentro do sistema de locomoção, e é esperado que ocorram disfunções. Como resultado, cada articulação tem uma necessidade de treino específica. A imagem acima mostra o corpo dividido por suas articulações e suas necessidades.

A primeira coisa que o leitor deve perceber ao ver a imagem acima é que as articulações simplesmente alternam mobilidade e estabilidade.

O tornozelo precisa de melhor mobilidade enquanto o joelho precisa de melhor estabilidade. Na sequência, é aparente que o quadril necessita de maior mobilidade. E o processo segue cadeia acima, com uma simples e alternada séries de articulações.

Nos últimos 20 anos, nós progredimos de uma antiquada metodologia de treinamento, com base em partes do corpo (tradicional musculação, com todo perdão aos fisiculturistas ou bodybuilders), para uma processo mais inteligente de treinamento baseado em padrões de movimento (treinamento funcional).

De fato, a frase “movimento, e não músculo” esta quase se tornando fora de moda, e francamente, isso é parte do progresso. Eu acredito que os bons profissionais, especialistas em exercício, já desistiram do antiquíssimo método (peito-ombro-tríceps) e seguiu em frente passando a se basear em puxar-empurrar-dominante, de quadril-dominante de joelho.

Curiosamente, hoje acredito que esse processo “movimento, e não músculo” deve dar mais um passo adiante. Eu acredito que lesões tem mais relação direta com as funções articulares, ou mais apropriadamente, com as disfunções articulares. Confuso? Não custa nada esclerecer.

Problemas em uma articulação geralmente surgem como dor na articulação logo acima ou logo abaixo.
A ilustração mais simples é a lombar. Parece ser óbvio, com base nos avanços científicos na última década, que precisamos de estabilidade de tronco. Também é evidente que muitas pessoas sofrem de dores nas costas. A parte interessante esta em cima de teoria por traz das dores na lombar.

Minha teoria do que causa a dor? Perda de mobilidade no quadril. Perda de função da articulação logo abaixo (no caso da lombar, o quadril) que parece afetar a articulação, ou articulações logo acima (coluna lombar).

Em outras palavras, se o quadril não pode se mover, a lombar fará o serviço. O problema é que o quadril foi feito para gerar mobilidade e a lombar para gerar estabilidade. Quando a articulação supostamente mobilizadora perde sua característica, a articulação estabilizadora é acionada para gerar mobilidade compensatória, tornando-se menos instável e subsequentemente desconfortável.

O processo é simples:
  • Perda de mobilidade no tornozelo, presença de dor no joelho.
  • Perda de mobilidade no quadril, presença de dor na lombar.
  • Perda de mobilidade na coluna torácica, presença de dor no pescoço, ombro ou até mesmo lombar.
Essa análise feita através da funcionalidade articular parece fazer muito sentido.

Um tornozelo restrito em mobilidade faz com o estresse da queda depois de um salto se transfira para a articulação logo acima: o joelho.

De fato, acredito que exista uma relação direta entre a rigidez de um tênis de basquete, a quantidade de "tape" e estabilizadores artificiais (braces) com a enorme incidência de síndrome patelo-femural em jogadores de basquete. Nosso desejo em proteger um tornozelo instável tem um custo alto. Nós descobrimos que muitos dos nossos atletas com dores no joelho tem problemas com mobilidade de tornozelo correspondente.

Uma das exceções a regra é o quadril. O quadril pode ser restrito em mobilidade e instável, causando dores no joelho devido a instabilidade (um quadril fragilizado permitira rotação interna e adução do fêmur) ou dores na lombar por restrição em mobilidade.

Agora, como uma articulação pode ser restrita e instável é uma pergunta interessante.

É percebível que fragilidade no quadril, em flexão ou extensão, causa ação compensatória na coluna lombar, enquanto ineficinetes abdutores (ou mais precisamente, prevenção de adução) causa estresse no joelho.

Ativação ineficiente de psoas e ilíaco causará padrões compensatórios de flexão lombar em substituição a flexão de quadril.

Ativação ineficiente de glúteo máximo causará um padrão de extensão compensatória da lombar que tentará substituir a extensão do quadril. Curiosamente, essas compensações alimentam um ciclo vicioso.

A coluna gera mobilidade para compensar a perda de mobilidade e força do quadril. Percebe-se que a perda de força no quadril gera perda de mobilidade, e essa perda de mobilidade gera mobilidade compensatória da coluna.

O resultado final é uma interessante xarada: uma articulação necessita de estabilidade e mobilidade em planos múltiplos..é o que o treinamento funcional faz e resulta...

Nenhum comentário:

Postar um comentário