quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Treinamento físico do Ator: será?

O termo teatro físico vem se tornando cada vez mais recorrente e, por sua vez, diversificado no meio teatral. É alvo de pesquisas na área das ciências humanas e é disseminado como uma tendência do fazer teatral voltando-se para o corpo e para o treinamento deste corpo na produção cênica.

Mas a pergunta é: “o ator realmente treina?”

Ao longo dos meus 15 anos no fazer teatral, estive em contato com inúmeros, dezenas de grupos teatrais, centenas de atores que ‘pesquisam’ sobre o treinamento físico do ator e não, o ator não treina, ele se destrói em nome de um outro termo chamado “entrega”.

Falo com convicção e ninguém, até que me provem o contrário, me convencerá que o ator 'treina'.

Diferentes grupos teratrais, baseados em ensinamentos antigos de outros autores que fizeram a história do teatro moderno e contemporâneo, assumem suas experiências passadas, de mais de 50, 60, 100 anos atrás e empregam aos seus grupos, “treinamentos” intensos, volumosos, sem o menor respaldo ou critério ciêntífico, incorrendo em lesões muitas vezes irreversíveis.

Acho esta profissão, a de atriz, ator, um ato de fé, um oficio que aos moldes de um artesão, constrói passo a passo sua história, muitas vezes não sendo reconhecido ou valorizado, o ator entrega-se ao fazer empírico imposto a sua profissão, submete-se a sessões de exercícios que de geração em geração é passada, sessões estas aplicadas por outros atores que tão pouco conhecem sobre sistemas, meios e métodos de treinamento e sem nenhum cuidado, aplicam exercícios físicos provindos das mais diferentes modalidades físicas e corporais em nome da melhora da performance cênica.

Hoje com todo o respaldo que a pesquisa nos oferece, a exemplo da educação física que traz na literatura pesquisas sobre o treinamento desportivo e de seus métodos e como os mesmos são aplicados de modo a trazer conseqüências positivas ou negativas ao corpo humano, a ator e seus grupos ainda relutam em ter o respaldo de uma equipe multidisciplinar, a qual poderá, certamente oferecer verdadeiro progresso físico e desta forma melhorar seu desempenho cênico.

Em recente pesquisa realizada por esta autora, juntamente com o professor Leon Carvalho e o professor mestre Marcos Pudo, verificamos que o treinamento do ator apresenta objetivos semelhantes ao treinamento esportivo, porém não apresenta princípios científicos nem fisiológicos, é prescrito por atores, que pode até incorrer em denúncia por parte de órgãos regulamentadores e não apresenta nenhuma prevenção quanto a lesões, nem osteomusculares, nem cardíacas.
É altamente intenso e apresenta grande volume o que pode incorrer na síndrome de overtraining fato presente também no treinamento esportivo devido a má distribuição das cargas de treino.
Entretanto um atleta pode apresentar esta síndrome após anos de treinamento exaustivo, em nosso trabalho verificamos que os mesmos sintomas são descritos por atores em poucos dias daquilo que eles chamam de “treinamento”.

O ator não treina, pensa que treina, os grupos não desenvolvem métodos eficazes que trazem de fato melhoras significativas aos níveis de aptidão física, das capacidades físicas, o ator precisa repensar em seu oficio dar valor a ele mesmo e ao seu corpo e recorrer, sem orgulho a profissionais que possam auxiliar de fato no desenvolvimento de sua profissão.

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